Bodega

escritos em geral.
por tici.

30/09/2003

Dicas de outros blogs

Depois de ler no Megazona sobre o livro “A lua vem da Ásia” e seu autor, Campos de Carvalho, que eu não conhecia, me deparei numa livraria com a sua obra reunida. Comprei.

Benditos meninos do Megazona! O livro é maravilhosamente bem escrito. De forma original e corajosa, o autor fala de loucuras inconfessáveis para muitos, embora comuns.

Olha esse trecho, daqueles que eu chego a ter inveja de não ter escrito:

“Mas tudo isto são desvarios de um espírito tresnoitado, dirão talvez meus inimigos eternos, que vivem dentro e fora de mim – e bastará que você calce os sapatos para que a realidade volte a funcionar sob seus pés, a dura e feia realidade de todos os dias, inclusive feriados e dias santos. É bem possível que assim seja, respondo calado, e por isso mesmo tratarei de não pôr os sapatos tão cedo, e se preciso não os porei nunca mais, a fim de pousar sobre meus próprios alicerces e ter os sonhos que quiser ter, e que para mim serão certezas.”
A lua vem da Ásia – Campos de Carvalho

Nesses últimos dias...

minha internet subiu no telhado...
meu último post subiu no telhado...
minha prova de DIP subiu no telhado...
minha sanidade subiu no telhado...
Depois eu subi no telhado e descemos todos juntos de mãos dadas, que a vida não espera não.

18/09/2003

Aqui jaz

Com um tiro certeiro foi-se a sua pacata vida.


Parecia um dia como outro qualquer, mas era o dia de sua morte. Acordou como sempre acorda, ainda com sono. Tirou as remelas dos olhos sem mal se olhar no espelho. Tomou um copo d’água antes de um café preto sem açúcar. Vestiu uma roupa não muito diferente da de ontem. Saiu.

A rua, aquela altura já povoada dos passos apressados da manhã, o escondia do mundo. Absorto pela massa, caminhava levado pelo fluxo, como a correnteza de um rio levaria um objeto inanimado.

A cidade lhe dava a impressão de abrigo quente. Nos poucos minutos do caminho para o trabalho era um pouco mais feliz. Não estava só, havia outros sofrendo tanto ou mais que ele. Uma forma um tanto egoísta de conforto, mas ainda assim eficaz.

Pura ilusão para quem quer se enganar. O mundo a muito não se preocupa com si mesmo, quiçá com um de seus inúteis habitantes. Mas era a única forma de viver, esta de se sentir necessário à vida. Diminuía um pouco a angústia, distraia a consciência.

Tinha, enfim, preocupações típicas de um homem moderno. Talvez não tão típicas assim. Afinal, grande parte das pessoas mal se preocupa com os vizinhos. “Não tomam conta do mundo, os outros.” – pensou.


Chegou em seu escritório. Na mesa, com as mãos firmes, escreveu sem se importar com a qualidade da frase, nem mesmo com o clichê: aqui jaz um homem que um dia teve ideais. E, virando o cano da arma para a boca, apertou o gatilho.

16/09/2003

É cedo pra que você vá. Ainda não lhe disse o que quero, nem sei mesmo se vou dizer. Mas peço que fique um pouco mais. Que me desculpe a covardia, a espera, a demora. E que fique um pouco mais na minha companhia. Desfrute de meus olhares de esguelha, de meus sorrisos de canto de boca, de minhas mãos nervosas em denunciar uma paixão tão incerta.

Conversas, bebidas, silêncios, olhares pontuam o nosso clima. E se eu te beijar, talvez isso se perca, talvez essa magia acabe e nos transforme em grandes indiferentes. Talvez não.

11/09/2003

Raridade

O sorriso me salta da boca num movimento involuntário, enquanto você, com seu jeito tímido, de poucos gestos, me conta as peripécias da sua infância como se fossem grandes façanhas. Fala mantendo nos olhos uma inocência incomum, própria dos homens que, como você, não perderam a esperança.

08/09/2003

Pitacos no cine Brasil

A semana que passou vi dois novos filmes brasileiros: “O homem do ano” e “Amarelo manga”.

O primeiro é um filme policial, adaptado por Rubem Fonseca de um livro da Patrícia Melo. O diretor é o José Rubem Fonseca, em seu primeiro longa. O elenco é bom. Os personagens, um tanto caricatos (o que me pareceu ser o objetivo) dão suporte para suas ações, às vezes absurdas.

O ponto alto para mim, é quando o personagem principal fala sobre domar a vida ou deixá-la te levar. Enfim, é um filme que pode suscitar discussões sobre violência, mas não era disso que pretendia falar. Então, não prolongo sobre o filme agora.

Queria mesmo falar sobre “Amarelo Manga”. Filme de Cláudio Assis, cultuado por onde passou.

É um filme estranho e as vezes um pouco pretensioso, querendo ser poético demais. Não achei tão bom quanto falaram, mas tem coisas interessantes.
As tomadas são por vezes do alto, te distanciando da cena, e por outras de perto, quase te colocando junto aos personagens. Sempre com a câmera meio solta. Interessante essa mistura.

Me chamou atenção algo que não foi comentado por onde li sobre o filme. As duas personagens femininas (Dira Paes e Leona Cavalli) e o paralelo entre suas vidas. Ambas vivem sob diferentes formas de opressão e têm diferentes maneiras de lidar com isso. No fim uma se liberta e a outra se resigna, dizendo, aliás, uma das melhores frases do filme. Esse detalhe, achei o melhor do filme.

São filmes que merecem ser vistos. Primeiro porque têm qualidade. Segundo porque são brasileiros, e, podem achar ridículo, eu gosto de incentivar o cinema nacional.

03/09/2003

Ando assim

Seguindo meu rumo na cadência da vida, com seu ritmo tosco, sua harmonia torta. Um ritmo incomum, algo inovador, de uma originalidade brutal. E esse som sem precedentes me conferiu um novo sabor, um novo gosto. Um novo tempero, estranho a todos que conhecia, mas que senti meu corpo absorver, como o solo seco absorve a água.

02/09/2003

Filosofando

A vida é uma constante busca. Tentando satisfazer seus infindáveis desejos, o homem evolui.
E é assim, desde a barbárie até hoje, no mundo civilizado.
“A necessidade é a mãe da criatividade”, diz a personagem Jo em “Adoráveis mulheres”. E o homem criou coisas que se tornaram essenciais: a roda, a luz, o telefone, o óleo esfoliante para peles secas, a Internet... E cá estou eu, escrevendo abobrinhas. Confesso: sub-aproveitamento de um invento fantástico.
Mas é essa a lógica do mundo a que chamamos civilizado.

Ps. Isso tudo me lembrou a lógica do jiló (de um amigo meu, que vai adorar ser citado no blog): Ainda bem que eu não gosto de jiló, porque se gostasse ia querer comer jiló. E eu detesto jiló.

Divulgando o terceiro flash blog, no Anomia. Participem! O último na Funny foi um sucesso, assim como o primeiro na Angela. Idéia do Matusca.