Uma figura, a Marina
Hoje lembrei de Marina. Marina trabalhou lá em casa desde que minha irmã mais velha nasceu até eu fazer uns 3, 4 anos. Completamente louca, o que sempre foi fundamental pra se adaptar à casa. E a gente ria com Marina, ria de Marina; e brincávamos de cotibunda escondidas dela, quando já deveríamos estar dormindo; e ela ameaçava cheia de moral lavar nossa boca com sabão se falássemos palavrão...
Um dia mamãe e papai acordam e cadê Tici... Procuram loucamente em todos os lugares, com todas as pessoas com quem poderia estar. Nada. Era folga de Marina, mas não, ela não levaria a criança...
Meus pais desesperados. Onde mora a Marina? Em algum lugar do Fonseca. Como é que chega na casa dela é que é o problema. No quarto dela, procuram um indício qualquer. Uma caderneta de telefone. Mas Marina não sabe escrever, só tem números anotados. Ligam pra todos até conseguir falar com uma vizinha de Marina que explica como chega.
E lá estou eu... Com o melhor vestido, me esbaldando... “Marina, a gente tá o dia todo procurando a Ticiana. Como é que você some com ela assim???”. “Mas se eu pedisse a senhora não ia deixar eu trazer...”. Meu pai tentou despedir ela nesse dia, ela se recusou a ir embora. Depois acabou indo, por alguma outra loucura qualquer certamente. Mas até hoje aparece lá em casa, quer saber da gente. Adora mesmo todo mundo de paixão.
E hoje me lembrei dela, quando voltava pra casa no ônibus. Um garoto ensinava uma senhora a ler perguntando palavras com c, depois com g.... e esperava as respostas da senhora. É que numa das últimas visitas de Marina, ela veio me mostrar toda orgulhosa que tinha aprendido a ler e escrever. Seu filho ensinou.