Bodega

escritos em geral.
por tici.

30/03/2004

Da série mulherzinha

Escape

Ontem, bebi demais.
Jurei que o álcool me resgataria,
me tornaria uma nova mulher.
Mais corajosa, mais charmosa,
mais falante que o normal.

Então bebi.
E por um tempo me iludi.
Fui Gilda por uma noite,
E nunca houve uma mulher como eu.

Agora, o sangue circula puro, sem álcool.
Vejo no espelho uma mulher,
Olhos borrados, sem batom...
Não parece a mesma de ontem.
Mas sou eu.

21/03/2004

Simples assim

O fim é a morte.
Se não chegou, ainda vem.
O começo é o parto.
Não o momento da fecundação,
como pensam alguns.
Feto é expectativa.
Expectativa do que virá,
mas ainda não veio.

O meio é o que fica entre o começo e o fim.
Convencionou-se chamar de vida.

17/03/2004

Elza Soares em plena terça

Não foi o primeiro show da Elza que assisti. Já vi outros em casas maiores, com bandas maiores, estruturas maiores e até com bailarinos. Dessa vez foi Elza mais quatro músicos no pequeno teatro do Instituto Moreira Salles, na Gávea. E que show. Elza duelou com os instrumentos usando a voz, fez um dueto com o baterista improvisando um batuque com as altas sandálias, cantou com veneração o antigo samba-enredo “Heróis da liberdade”. Enfim, puro charme aos 72 anos.

Eu ia sobrevivendo às emoções, até que ela começou a cantar “Acontece” do Cartola. Primeiro com microfone, depois sem. A melhor interpretação da música que já ouvi. A voz maravilhosa não é só o que usa para cantar. Tem todo o corpo, a expressão e certamente boa parte das vísceras. Bastou. E à minha boca aberta de assombro somaram-se as lágrimas que não pude conter.

Viva Elza!

15/03/2004

Adulta, eu?

Nesses últimos meses, muita coisa mudou na minha vida... Não por fora. Talvez só o novo corte de cabelo, mais curto. Mas por dentro.
Não, não me tornei melhor. Não aderi a nenhuma religião redentora, nem algo do tipo...
Mas estou mais consciente dos meus defeitos, das minhas limitações. Aprendi um pouco a usá-los a meu favor. E minhas qualidades nunca estiveram tão evidentes.
Dói um pouco e a gente até chega a chorar... mas o corpo vai se adaptando, vai ficando mais leve e a gente vai sorrindo mais e mais. Até gargalhar da vida.
Eu sempre soube que um dia teria que crescer...

08/03/2004

Que a vida me tome com uma avassaladora onda de prazer,
que me tire dos eixos,
me vire do avesso, sacuda, destrua.
Que se insinue pra mim despida, desnuda
de roupa, de tédio, de idéias ou ideais.
Que me venha crua, mas pronta.
Que me deixe tonta.

Só quero isso e nada mais.

Resolvi fazer umas mudanças no template... Pra quê? Com que eu entendo de HTML, obviamente não daria certo. Não deu certo. Perdi os comentários que usava antes; as aspas viraram um traço que eu não consigo mudar; os links e os arquivos ficam no final da página; enfim, nada como eu queria, mas... continuo tentando.

03/03/2004

Uma figura, a Marina

Hoje lembrei de Marina. Marina trabalhou lá em casa desde que minha irmã mais velha nasceu até eu fazer uns 3, 4 anos. Completamente louca, o que sempre foi fundamental pra se adaptar à casa. E a gente ria com Marina, ria de Marina; e brincávamos de cotibunda escondidas dela, quando já deveríamos estar dormindo; e ela ameaçava cheia de moral lavar nossa boca com sabão se falássemos palavrão...

Um dia mamãe e papai acordam e cadê Tici... Procuram loucamente em todos os lugares, com todas as pessoas com quem poderia estar. Nada. Era folga de Marina, mas não, ela não levaria a criança...

Meus pais desesperados. Onde mora a Marina? Em algum lugar do Fonseca. Como é que chega na casa dela é que é o problema. No quarto dela, procuram um indício qualquer. Uma caderneta de telefone. Mas Marina não sabe escrever, só tem números anotados. Ligam pra todos até conseguir falar com uma vizinha de Marina que explica como chega.

E lá estou eu... Com o melhor vestido, me esbaldando... “Marina, a gente tá o dia todo procurando a Ticiana. Como é que você some com ela assim???”. “Mas se eu pedisse a senhora não ia deixar eu trazer...”. Meu pai tentou despedir ela nesse dia, ela se recusou a ir embora. Depois acabou indo, por alguma outra loucura qualquer certamente. Mas até hoje aparece lá em casa, quer saber da gente. Adora mesmo todo mundo de paixão.

E hoje me lembrei dela, quando voltava pra casa no ônibus. Um garoto ensinava uma senhora a ler perguntando palavras com c, depois com g.... e esperava as respostas da senhora. É que numa das últimas visitas de Marina, ela veio me mostrar toda orgulhosa que tinha aprendido a ler e escrever. Seu filho ensinou.